Major da PM é preso pela segunda vez em menos de quatro meses por usar cargo para cobrar propina, no Paraná
23/09/2025
(Foto: Reprodução) Major Alexandro foi preso no dia 22 de maio, em Maringá.
Reprodução/Redes sociais
O major Alexandro Marcolino Gomes, da Polícia Militar do Paraná (PM-PR), foi preso preventivamente na manhã desta terça-feira (23). Ele está sendo investigado por usar o cargo de comandante da 3ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) de Loanda, no noroeste do estado, para cobrar propinas dentro da corporação.
O mandado de prisão contra ele foi expedido após a Justiça Militar torná-lo réu por corrupção passiva, devido uma denúncia feita pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) contra ele. Entenda abaixo.
Alexandro já havia sido preso preventivamente no dia 22 de maio deste ano, durante a Operação Zero Um, por ser suspeito de "vender" procedimentos internos da corporação. Segundo o MP, o major exigia pagamentos para determinar transferências de policiais e tomar decisões em inquéritos militares, além de intimidar e subjugar subordinados.
Ele estava em prisão domiciliar. Na Operação Transparência realizada pelo Gaeco nesta terça-feira, o major foi encontrado na casa dele, em Maringá, no norte do Paraná.
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Segundo o Ministério Público do Paraná, além do mandado de prisão preventiva, também foram cumpridas medidas constritivas patrimoniais contra o major, como o bloqueio de contas, veículos e imóveis no valor de R$ 344.333,00.
A PM-PR informou ao g1 que não vai se manifestar sobre o caso. Contudo, informou que Alexandro foi afastado do cargo de comandante e que um procedimento interno instaurado vai determinar a exclusão ou não dele da corporação.
A advogada Anna Victória Masnei de Lima, que atua na defesa de Marcolino, enviou uma nota ao g1 se manifestando sobre a prisão. Veja abaixo a nota na íntegra:
"A defesa do Major Alexandro Marcolino, por meio da presente nota, vem a público reafirmar seu compromisso com a verdade, com a legalidade e com a preservação das garantias fundamentais asseguradas pela Constituição da República.
A prisão cautelar decretada contra o Major Alexandro Marcolino mostra-se medida desproporcional e inadequada ao atual estágio processual, representando afronta ao princípio da presunção de inocência (art. 5º, LVII, CF/88), garantia que constitui um dos pilares do Estado Democrático de Direito.
É imprescindível destacar que a prisão preventiva não pode ser utilizada como antecipação de pena ou como instrumento de coação. Sua aplicação somente se legitima em hipóteses de comprovada necessidade, devidamente fundamentadas, o que não se verifica no caso em tela.
Cumpre ainda ressaltar que o Major Alexandro Marcolino, ao longo dos 26 anos de sua carreira, sempre pautou sua conduta pela disciplina, pelo respeito à lei e pela dedicação ao serviço público.
A decisão que lhe impôs a custódia cautelar gera reflexos não apenas em sua vida pessoal, mas também em sua família, que atualmente enfrenta sérias dificuldades com sua ausência, agravando o sofrimento de seus entes queridos diante de uma medida que não encontra amparo na proporcionalidade exigida pela ordem jurídica.
A defesa manifesta sua confiança nas instituições de Justiça, convicta de que a análise serena e técnica dos fatos conduzirá à revisão desta decisão, restabelecendo-se a liberdade do Major Alexandro Marcolino e reafirmando-se o compromisso da sociedade com os valores constitucionais.
Reiteramos, por fim, que não se busca privilégio, mas apenas a observância estrita da lei, de modo que o processo siga seu curso natural, sem que se imponha ao acusado uma punição prematura e descabida.
A defesa seguirá vigilante e firme, atuando para que a legalidade prevaleça e para que os direitos do Major Alexandro Marcolino sejam integralmente respeitados."
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Investigação do MP concluiu que Major exigiu dinheiro de fornecedores durante campeonato de pesca da corporação
Camisetas e diversos documentos foram apreendidos durante operação realizada em maio.
MP-PR
O major passou a ser investigado em setembro de 2024, quando uma denúncia chegou ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), relatando que Alexandro e outros soldados da corporação estariam cometendo crimes.
Durante a operação realizada no dia 22 de maio – ocasião em que o major foi preso – os policiais também apreenderam camisetas, recibos e cheques sem indicação nominal de beneficiários no interior da 3ª Companhia da PM em Loanda.
No dia 10 de setembro, Marcolino foi denunciado por corrupção passiva pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR), por meio dos promotores Marcelo Gobbato e Guilherme Franchi. A investigação foi feita por meio dos Núcleos Regionais do Gaeco de Maringá e de Umuarama, e concluiu que Marcolino exigiu dinheiro de fornecedores durante a realização de campeonatos de pesca da corporação.
No dia 15, o Poder Judiciário recebeu a denúncia, tornando o major réu no processo.
O g1 teve acesso ao documento da denúncia. Nela, o Gaeco apontou a ocorrência de dez situações em que houve cobrança de valores indevidos de representantes de empresas que mantinham contratos de prestação de serviços com a Companhia.
Segundo a denúncia, algumas das exigências de propina foram feitas durante a realização do 3º Torneio de Pesca da Companhia. Durante a investigação, foi apurado que o Major exigiu que a empresa que fornecia as camisetas do evento repassasse para ele um percentual dos valores arrecadados com as vendas.
Segundo a investigação, ao fazer a exigência, Alexandro usava a desculpa de que o dinheiro seria para realizar "benfeitorias" nas instalações da corporação. O MP afirma que, em outras ocasiões, também foi comprovada a exigência de propina em troca do fechamento de contratos de prestação de serviços para a corporação.
MP denuncia comandante da PM de Loanda por cobranças de propina
Major já havia sido preso em maio deste ano
No dia 22 de maio de 2025, Alexandro foi preso preventivamente durante a Operação Zero Um. A operação foi nomeada de "01", pois era assim que Alexandro era chamado em conversas que foram interceptadas durante as investigações.
As apurações reuniram evidências de que o comandante cobrava, de forma recorrente, valores para alterar procedimentos disciplinares, inquéritos policiais militares e transferências de unidades.
De acordo com o MP-PR, as investigações apontaram que o esquema de propina funcionava internamente na Polícia Militar, de forma sistêmica e estruturada, e ainda contava com um operador financeiro.
Em uma coletiva de imprensa, o promotor do Gaeco, Marcelo Gobbato, contou que as investigações apontaram que o major cobrava diferentes valores, a depender de cada situação. Em um dos casos, o comandante recebeu o pagamento de R$ 10 mil para que um subordinado fosse transferido para outra unidade. As cobranças eram recorrentes, segundo o Gaeco:
"Sempre que havia oportunidade de obter valores decorrentes de procedimentos disciplinares que ele, de algum modo, pudesse interferir em relação a subordinados. Outras vezes, pagamentos para o comandante como forma de o militar subordinado conseguir uma transferência para outra unidade da instituição. Outras vezes, atos de interferir diretamente na atividade de policiais para que não fizessem abordagens ou não tomassem essas ou aquelas providências", explicou o promotor.
Segundo o comandante Mildemberg, o major tinha competência para solucionar inquéritos militares e "vendia" as decisões dos procedimentos.
"No inquérito policial militar, em qualquer crime militar que seja dentro da área de circunscrição, é ele [o major] que faz a portaria de nomeação e ele que faz a solução do inquérito. Então, como ele tinha a competência para solucionar o inquérito, ele vendia a decisão para esses procedimentos", explicou.
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